quarta-feira, 19 de março de 2014

AS JANELAS QUEBRADAS DE MINHA CIDADE

Há alguns dias presenciei uma viatura do RONDA DO QUARTEIRÃO (Policiamento comunitário criado pelo Governo do Estado do Ceará) parado em determinado cruzamento da cidade de Fortaleza e a aproximadamente 100m da viatura, um paredão de som montado sobre uma Hilux, estava parado em frente a uma residência produzindo níveis sonoros abusivos.
Observei que alguns moradores da vizinhança saiam, olhavam, voltavam ao interior de sua residência, saiam novamente, isso se repetia em várias residências próximas ao paredão, mostrando o incômodo que eles estavam sofrendo.
Isso me fez lembrar outras situações que infringem a lei e que a Policia e outros funcionários públicos com a função de fiscalizar, passam ao lado e não coíbem (venda de DVD pirata, pessoas urinando no logradouro, pichação, ocupação indevida do passeio, etc.). Situações corriqueiras em nossas cidades, ilegalidades previstas em lei e que não são coibidas porque são infrações “menores” segundo os agentes públicos, refletindo o pensamento de seu comandante ou chefe, que tendem a priorizar, no caso da policia, apenas os crimes violentos e “principalmente os já ocorridos”, mostrando uma visão de reconhecimento da violência e não de prevenção.
Entro neste tópico ao lembrar o que li no livro “O Ponto da Virada” de Malcolm Gradwell, onde ele relata os momentos de aflição que a cidade de Nova York passou na década de 1980, uma cidade que ficou nas garras da pior epidemia de crimes da sua história e é neste ponto que percebo uma semelhança brutal com Fortaleza, que só este ano já contabiliza mais de 700 crimes, promovendo uma taxa de 79.42 homicídios por cada 100 mil habitantes, números alarmantes. Faço esta correlação ao lembrar a situação de Nova York naquele período e a situação de Fortaleza nestes últimos 10 anos. Na cidade americana, a administração daquele período, mostrava-se refém do crime, mais de 2000 assassinatos por ano, número que Fortaleza alcançou facilmente no ano de 2013. Percebi também que naquele período o descaso com a coisa pública era semelhante ao que ocorre em Fortaleza e em muitas cidades do Brasil.
Durante a crise nova-iorquina, as estações de metrô eram entregues à sujeira, escuras, pichadas. Os vagões eram sem conforto, quentes no verão, frios no inverno, com acidentes constantes, praças públicas sombrias e sem a presença da população, situações muito semelhantes às que vivemos hoje em nossas cidades, onde encontramos poucos ônibus e sem conforto, que diariamente massacram a população, trens (no Rio e em São Paulo) que periodicamente se acidentam, superlotados, espaços públicos abandonados pelo poder público e pela comunidade, sendo depredadas e inseguras, passando a ser o habitat de usuários de droga.
Durante a crise em Nova York a Policia também não coibia pequenas infrações, as evitava devido às longas horas para efetiva-las, além de serem presos a regulamentos que algemavam suas ações. Alguma semelhança? Aqui em Fortaleza pude vivenciar juntamente com os policiais que me acompanhavam em blitz, o desgaste que era efetivar um TCO com um infrator de Poluição Sonora, muitas vezes 12 horas esperando o atendimento, fato que leva à falta de interesse do policiamento em coibir os crimes de menor monta e infelizmente a Poluição Sonora se encontra nesta conceituação.
Mas em Nova York, em determinado momento, a cidade mudou de atitude. Com base na teoria das janelas partidas, fruto da imaginação dos criminologistas James Q. Wilson e George Kelling. Que diziam o seguinte:
“... o crime é o resultado inevitável da desordem. Se uma janela está quebrada e não é consertada, quem passa por ali conclui que ninguém se importa com aquilo e que não há ninguém no controle. Em breve outras janelas aparecerão quebradas, e a sensação de anarquia se espalhará do prédio para a rua, enviando a mensagem que aqui vale tudo.”
Segundo eles, em uma cidade, problemas relativamente insignificantes, como pichação, desordem em locais públicos e mendicância agressiva, são o equivalente a janelas quebradas – convites para crimes mais graves.
Em Fortaleza, ano a ano, os administradores da cidade e os responsáveis pela segurança pública, esquecem estas “janelas quebradas” e teimam em não perceber a importância que teria para a sociedade, o combate simultâneo aos crimes de menor monta, mostrando à sociedade sua presença e importância no gerenciamento da coisa pública, além de fortalecer as leis, dando-lhe credibilidade.
As delinquências citadas são comuns em nossas cidades e montam uma imagem de desordem pública, de fragilidade legal e de desinteresse pelo bem estar e conforto da população, bem estar que durante a virada que ocorreu em Nova York, passou a ser prioridade, ou seja, o combate a delitos aparentemente insignificantes contra a qualidade de vida da população determinaram o ponto de virada dos crimes violentos e puxou a tranquilidade de volta a sociedade. Esta atitude não retirou a população infratora da cidade, as mesmas pessoas que antes burlavam a lei, permaneceram e passaram a cumprir a lei, derrubando os índices de forma vertiginosa. O poder público marcou presença, definindo os parâmetros legais e os fazendo referencial social além de paralelamente administrar corretamente todas as funções inerentes ao Estado e em prol da sociedade.
No caso específico de Fortaleza e em particular da Poluição Sonora, os locais de infração deste delito normalmente são focos de badernas e de crimes, em muitos casos reuniões com a presença de um paredão resultou em morte de alguém. Estabelecimentos que usam som vendem bebidas e funcionam durante todo o período noturno, também são focos de violência e desordem, tudo isso sem falar do desconforto que geram para a população do entorno, onde ao final de seus eventos, sobram paredes “pichadas com a urina derivadas das bebidas”, copos descartáveis em profusão e uma tremenda dor de cabeça por uma noite mal dormida, minando sua saúde a cada dia.
Em Fortaleza, leis para coibir tudo isso existe: Lei 8097/97 (Dispõe sobre as medidas de combate a Poluição Sonora), Lei 9756/11 (Lei especifica para os paredões), Lei 9477/2009 (Estabelece o horário de funcionamento de estabelecimentos que utilizam bebidas em suas atividades), Lei 5530/81 (Código de Obras e Posturas do Munícipio), Leis Estaduais, Leis Federais, etc.
Algumas leis são esquecidas, e não se compreende a burocracia existente em nosso país para o atendimento de uma denúncia, as pessoas tem que sofrer ate o fim o problema e esperar que sua queixa seja atendida em um futuro próximo. A mão da lei está engessada pela burocracia.

6 comentários:

SANDREA ALVES disse...

FORTALEZA ESTÁ ENTREQUE AOS DITADORES ONDE O CERTO É O ERRADO E O ERRADO É O CERTO...

Antonio disse...

PARABÉNS...

Pádua Thomaz disse...

Tudo isso é fruto da administrações de gestores. Sejam eles de que nível! Pois administram pensando na próxima eleição. Temem assumirem decisões que possam lhes prejudicar ou a seus partidos no futuro.

Não será a direita ou a esquerda a solucionar os graves problemas que enfrentamos, mas a tomada de consciência de cada um de nos. E este blog tem este proposito, despertam esta consciência.

Celma Alves disse...

Caro Aurélio,
Eu sou vítima do terrorismo sonoro publicitário veicular – ignorância em estado bruto só aceita e permitida no quinto mundo.
As ‘bombas’ que eles explodem diariamente ‘dentro’ do meu domicílio – que deveria ser inviolável – estão estilhaçando minha saúde, meu bem-estar, minha dignidade, minha autonomia da própria vida, meu sossego, meu cérebro, minha VIDA!
Sobrevivo em estado de pânico permanente. A torturante lavagem cerebral é com requintes de sadismo e crueldade.
Esses criminosos estão me causando danos emocionais-físicos-psicológicos irreversíveis, pela certeza total da impunidade, com a conivência total do Estado.
Estamos sob o jugo do Estado, e dos que se acham os donos das cidades.
O cidadão está totalmente à mercê da sorte. A omissão do Estado é desavergonhada.
A civilidade é feita da pequena ética do dia a dia; O direito é fruto do dever.
Estamos involuindo! É assustador!
Uma mercadoria vale mais do que o ser humano; uma caixa de som vale mais do que o ser humano. Não estamos na prateleira, estamos no LIXO!
Salve-se quem puder!

Celma Alves disse...

Trios Elétricos-Paredões-Carros de Som são Armas de Destruição em Massa.
Um carro de som circulando atinge, certeiramente, milhares de pessoas num único dia, sem que as vítimas tenham direito à legítima defesa.
Eles estão nos afetando no CÉREBRO! É da maior gravidade!
Seus defensores querem a bestialização do povo brasileiro.
A quem interessa nossa degradação?!
Acorda Brasil!

S.O.S. Terrorismo Sonoro Tolerância Zero! disse...

Caro Aurélio,

As Vítimas da Poluição-Tortura-Terrorismo Sonoro agradecem seu empenho em nos defender.
Também agradecemos aos Excelentíssimos Desembargadores pelos seus “Artigos” em nossa defesa.
Estamos à mercê da sorte!
Queremos viver num país onde a civilidade seja regra, e não exceção.

http://www.amb.com.br/index.asp?secao=artigo_detalhe&art_id=126

http://joseluizalmeida.com/2007/06/06/a-poluicao-sonora-e-o-direito-a-indenizacao-por-danos-morais/

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